Viagem ao encontro do animal de poder
Uma árvore seca me chama. Olho-a e reconheço a
morte, mas não a morte de tudo o que existe…
Aproximo, toco-lhe e me percebo. Entendo que a
tarefa é transmutar para a vida.
De cima, em baixo, experiências, já secas, acabadas.
Junto à terra as raízes insinuam-se às profundezas.
E eu vejo o caminho para dentro nas vestes do tatu. O buraco estende-se no
túnel fresco e escuro, em direcções tortuosas e dimensões oscilantes. Ele me
leva ao seu domínio e me diz que é seguro seguir… Reverencio quando ele se vai
e agradeço.
Logo vejo uma curva à direita e sei que devo seguir
nesta direcção. E encontro um aprofundamento da caverna e reconheço as minhas
raízes, ainda com vida pela nutrição e observância da terra aos seus seres.
Ainda que suspensa no vácuo e sem contacto directo com a água que corre terra a
dentro, sinto a sua energia-vida presente.
Desço até a corredeira, num nível mais baixo. Há
muita luz! Toda a vida está ali. Caminho sobre as rochas a observar a atmosfera
vivificante. Sinto o acolhimento da Mãe Terra e seus habitantes, o reino do
povo em pé, a brilhar a luz do céu e recebo parte de tudo o que é. As árvores e arbusto chamam-me a caminhar,
muitas cores naturais fazem-me trocar a minha forma. Então, com o coração já
puro, peço que se apresente o animal que me vai oferecer a sua lição.
Apresenta-se, descendo do topo de uma grande árvore,
a olhar para mim, o macaco. Ele vem ágil, feliz, seguro do seu papel e salta à
minha frente. Eu o reconheço. Agradeço a sua vinda e peço a orientação e a sua
dança. Ele diz-me que a terra é nossa casa e que portanto, temos que ser livres
para ir e vir, com fluidez, com alegria, agilidade e reconhecer que tudo dentro
da Terra merece a liberdade, a independência, a solidariedade e que Tudo se
comunica. Assim, a Mãe e o Pai protegem-nos. Ao ouvir os seus ensinamentos, o
olho e agradeço comovido. Ele dá um salto e agarra-me ao peito e em seguida
escolhe sentar-se sobre os meus ombros.
Em seguida, percebo que há mais… Uma tartaruga
lentamente se aproxima dos meus pés. Eu agradeço a sua presença, estou muito
comovido por tamanha bênção. E ela me diz: __Não há pressa, não há tempo, todo
o tempo é um fluir, em conjunto. Deseje apenas fluir. Vá devagar para saber
onde está indo e se está indo de acordo com o que deve ser, para a sua
felicidade e função. Assim viverá o tempo certo nesta dimensão. Quando sentir
inseguro, entre para dentro da toca do tatu e venha ter comigo, e, recolhido à
sua essência, receba a orientação. Ela convidou-me a deitar-me ao seu lado e
rastejar sobre a terra e descansar…
Um sentido de unidade integrou-me; é como me levasse pela mão ao encontro de toda a verdade universal e fez-me sentir dono do lugar onde estou. Esta foi a sua dança, que adorei dançar…
Um sentido de unidade integrou-me; é como me levasse pela mão ao encontro de toda a verdade universal e fez-me sentir dono do lugar onde estou. Esta foi a sua dança, que adorei dançar…
Mas, logo outro amado animal surgia, devagar e silencioso.
Dos seus olhos saíam luzes em minha direcção. Ele passava por entre os arbustos
e árvores, sem que as tocasse. O tigre adulto aproximou-se como a dividir
comigo a sua energia. A esta altura, estava em êxtase, pois sentia-me a ressuscitar
e logo foi dizendo: __ Esteja onde estiver, saiba que estou aqui. Sou a sua
liberdade, foco e astúcia. E também, a certeza de que há segurança e respeito no
seu território, quando o caminho é o seu caminho. Vá e toma o que é seu por
direito, planeje tudo com o olhar além, foque no que necessita e o busque.
Ainda experimentei caminhar ao seu lado, a perceber
a dança da visão transcendental. Agradeci e ele continuou junto a mim e eu
passei a senti-lo no meu plexo solar, o que me fez extremamente forte.
Ancorado e revestido com a energia dos quatro
animais, olhei para as altas árvores agradecido pela luz que elas traziam do
Pai Sol, integradas ao azul do céu, a iluminar o interior de Gaia. E, acima de
suas copas, planava a águia, magistralmente sábia. E ao vê-la perguntei se ela aceitava
orientar-me. Instantaneamente, voou ao meu redor e pousou sobre a minha cabeça.
__ De cima das minhas alturas, o que vejo é o infinito. As possibilidades da
liberdade e da visão de longo alcance. Voo para o criador! Pois sou o Próprio!
Abaixo, à frente, aos lados e acima é o meu domínio, as quatro direcções... O
domínio do Amor e da Sabedoria. Tudo o que há em baixo, é como é, em transição,
porque o que há no universo é transição entre infinitas possibilidades. E
o que há em cima, há em baixo… Deixe as ideias. Só observe, enquanto caminha.
Tudo faz parte de Tudo. Sei bem dos porquês de tudo o que há e virá a ser. Deixe de
pensar controlar alguma coisa, abandona o que já foi, sinceramente e abra-se ao eternamente novo. Veja as conexões da vida em toda a sua plenitude, a partir de si
mesmo, pois a experiencia parte de si. Deixe de tentar racionalizar tudo!
Apenas olhe e veja no silêncio daquilo que é, um com Tudo. Mas venha para as
minhas alturas! A visão torna-se real e os acontecimentos transformam-se,
magicamente, em expansão e contracção. Somos seis, doravante. Estaremos
integrados para o bem, para a vida, para todos, para Tudo o que há.
Deus! Sou uma parte Sua, agora sei… Agradeço as
manifestações da Sua presença, o Espírito que vestiu toda a natureza! Aceito os Seus atributos, humildemente!
Voltando das profundezas da vida, segui o caminho
antes percorrido, atravessando o túnel, agora iluminado pelo Espírito e chego à
superfície.
O ar está mais suave, a aridez se converte em vida, esperança e paz.
Deixo aquela árvore, já sem vida, agradecido pela experiencia da minha vida. É preciso morrer para renascer…
Não há perdas, não há medos, não há morte!
O ar está mais suave, a aridez se converte em vida, esperança e paz.
Deixo aquela árvore, já sem vida, agradecido pela experiencia da minha vida. É preciso morrer para renascer…
Não há perdas, não há medos, não há morte!
Caio Alvarenga
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